segunda-feira, dezembro 06, 2004

Interações subatômicas e as relações humanas (1)

Como meios de interação, o homem tem disponíveis diferentes veículos. Dentre eles, o mais fundamental, antigo e cristalizado, é o das relações humanas diretas. Estas se dão através principalmente da comunicação verbal, mas complementada pela expressão corporal e, como procurar-se-á defender abaixo, por elementos não tão claramente conhecidos ou definíveis.
A estrutura psíquica humana tem sido ampla e profundamente estudada há muito, embora de maneira mais científica a partir de Freud e a psicanálise, no século 19. Dentro desse contexto, muitos estudiosos procuraram encontrar sistemas que ajudassem a compreensão das reações humanas. Esses sistemas, seja no caso individual e interior (caso da Psicologia), seja no caso coletivo (no caso da Sociologia), propõem relações causais, dentro do possível (tratando-se sempre de ciências não exatas), para explicar o comportamento de homens ou sociedades face a diferentes estímulos.
O que especula-se aqui é que é possível atuar na direção oposta: a partir da observação recorrente de padrões no comportamento do homem, pode-se inferir causas não observáveis, fatores e forças a priori incognoscíveis, mas que uma vez aceitas podem levar a um maior entendimento da natureza reativa do psíquico.

Vamos assim à evidência que sugere tal idéia.

Sejam duas pessoas que mantém entre si relação estreita, tal que cada uma delas procura de forma ativa interagir com a outra. Vamos admitir que tal relação é de intensidade razoável, e que essa procura pela interação se dá por causas emocionais e não sociais.
Introduzimos então o acidente, o primeiro estímulo: um dos sujeitos abandona o comportamento ativo, e passa a responder somente quando procurado pelo outro.
Ainda estamos aqui nos domínios da psicanálise usual. Por isso, podemos lançar mão de suas estruturas e sistemas para compreender melhor a atitude que a pessoa, digamos, rejeitada, tomará diante do novo estado de coisas. Em suma: ainda partimos daqui desde o estímulo na direção da resposta.
Assim, o rejeitado poderá, dependendo do grau da intensidade que conferia em seu mundo interior à essa relação, assim como do tipo de personalidade que tem, replicar o comportamento do rejeitante ou permanecer agindo ativamente, em qualquer dos casos sentindo-se ofendido, magoado, ou mesmo indiferente.
Avançando, digamos que o rejeitado decide-se a agir como o rejeitante, mas que experimente de si para si um sentimento de perda, e alimente mesmo uma certa esperança não expressa de que a estrutura de suas relações volte à originalidade. Entretanto, passa-se o tempo e não há evidências de que tal acontecerá. O rejeitante parece ter aderido de forma consistente ao novo padrão de atuação, e o rejeitado, com maior ou menor velocidade, aceita o novo estado de coisas.
E é aí que aparecerá o fato, observado de forma recorrente, que motivou a tese de que tratamos. Precisamente no momento em que o rejeitado aceita a nova natureza de relações com o rejeitante, e igualmente abandona a procura ativa, mas agora sem mais o sentimento de perda e já desesperançoso de voltar ao esquema inicial, o rejeitante volta à linha ativa de atuação, procurando novamente o rejeitado.
Finalmente então chegamos ao ponto onde procuraremos caminhar na direção não usual, a saber, da resposta até o estímulo.
A resposta aqui, da parte do rejeitante, é a nova mudança de atitude.
Parece seguro afirmar, por outro lado, que não há estímulo observável que possa ter motivado tal resposta, já que ao replicar o comportamento passivo do rejeitante, o rejeitado não teve mais meios de indicar sua mudança de aspirações, ou de estimular o rejeitante de qualquer forma. Assumimos além de tudo aqui que não há conhecidos em comum, que porventura pudessem atuar como transmissores de estímulo.
Mesmo assim, é evidente que há alguma relação causal no ocorrido. Enfatizamos aqui novamente que fatos de tal natureza foram por nós amiúde observados.
Como podemos, então, caminhar de forma a propor algum tipo de estímulo, de ação à distância, de interação indireta, que esclareça tais ocorrências?

(continua)