segunda-feira, outubro 06, 2003

(egoPost: just for the records)

Bom, perdi o meu relógio.

É... deixei em cima da mesa, fui dar uma voltinha e quando cheguei em casa olhei pro meu braço e... um abraço. O pior de tudo é que demorou pra eu perceber como eu o tinha perdido, porque passei por tantos lugares... poderia ter acontecido tantas coisas... E só depois de um pouco de concentração que chegara à mencionada certeza.

Era perfeito pra mim, tudo o que sempre quis: analógico, grande (apelidado de big ben), bonito, vestia bem, não era chamativo, leve, fino, ótimo refletor da luz do sol (pra fazer aquelas brincadeirinhas incovenintes) e o melhor de tudo: era um divisor e tanto demarcando a fronteira entre meu antebraço e minha mão.

O impacto da perda, logo que ela aconteceu, não foi tão grande. Talvez porque o relógio havia sido um presente inesperado, algo que eu não estava necessariamente "dando qualquer coisa" pra ter (acho que quase nada vale tanto desespero...), mas a verdade é que fui me apegando cada vez mais a ele, e ele também a mim, até porque vivíamos abraçados.

Ahh... Como fui estúpido de não ter tomado cuidado com um detalhe tão pequeno... Tenho outros relógios, um até mais ou menos parecido (não tão grande quanto ele era), mas muito longe de possuir o charme que o original detinha. E esse grau de insubstituidade que ele atingiu me deixou até envergonhado perante a mim mesmo de usar qualquer outro relógio. E esse detealhe me desencadeou a peculiaridade de que não consigo usar relógios por muito tempo... Claro, o único relógio que valia a pena usar se foi...

E pior ainda, eu ainda sou obrigado a conviver com a idéia de que ele está no meio de nós. Sim, porque na verdade o grande monstro de toda a história sou eu, que abandonei o pequeno incocente (apesar dele não ser tão pequeno assim). Porém o que mais me incomoda é o fato dele estar andando por aí com outra pessoa, abraçando o punho de outro, que provavelmente deve estar investindo a atenção que ele merecia. Ahhh, se pelo menos ele tivesse caído no meio da rua e sido atropelado por um ônibus... ou de repente, algo tivesse afrouxado sua fivela e ele tivesse caído do alto da varanda de um prédio...

A verdade é que eu não posso me marginalizar de toda a noção do tempo apenas porque não acho um instrumento portátil que seja capaz de medí-lo (o tempo) e de me satisfazer completamente ao mesmo tempo.

Então, acho que a melhor coisa a se fazer é deixar as coisas quietas. Andando e navegando por aí, quem sabe, eu não acabo achando algum outro modelo que me interesse... outro dia vi aquele que o James Bond usa e olha... que loucura... fiquei expressionado... ou até, quem sabe, já pensou, acabo achando o safado filho-da-puta que está com o meu menino...

Poderia até deixar uma foto dele por aqui, mas dado o extremo poder de sedução que ele exerce sobre a gente, temo que ao fazer isso poderia desencadear um tremendo incidente entre nós (não sei porque lembrei da história daquele anel, sabem??).

Enfim, nada...



the Lord of the LostThings,
correndo atrás do tempo perdido.

(alguém tem horas pra dar??)