sexta-feira, outubro 15, 2004

Muito bom chegar pela manhã no surrado escritório e ler coisas como essa.
Sabemos bem quem foi esse "primeiro ex-farsante assumido", o que só faz aumentar nossa velha admiração. É recompensador nos encontrarmos em meio a pessoas valiosas, e que (visão um tanto estreita, mas verdadeira) pensam como nós.

Então lancemos a campanha: pelo fim das convenções sociais, das relações de fachada, das frases pomposas, ou educadas, ou polidas, mas sem verdadeiro significado.

A vida é muito curta para ser desperdiçada cultivando relações vazias. E, já diz o adágio, "Amigo que não presta, faca que não corta, que se perca, pouco importa".

Primeiro passo (ou hípótese de indução): entre nós mesmos, já que somos um grupo agora coeso e cristalino, que desde já cesse a palhaçada, e que as coisas que devem ser ditas o sejam sem meias palavras.

Segundo passo (ou passo de indução): estender o comportamento, verdadeiro para n, até n+1, e assim a todos.

Cada homem não é mais uma ilha, mas não necessariamente precisa ser um centro de megalópole ou um coração de mãe.

E, para não perder o costume, encerremos com Sidarta, que ao ser apedrejado pelo povo de um vilarejo, respondeu a seu discípulo favorito quando este sugeriu que fossem embora dali:

"O iluminado não é atingido pelas coisas externas".

Nem que sejam pedras.

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Does it matter?

terça-feira, outubro 12, 2004

As mentiras mais devastadoras não são as que contamos, mas as que vivemos.
Vivemos uma mentira quando distorcemos a realidade da nossa experiência ou a verdade do nosso ser.
Assim, estou vivendo uma mentira quando finjo um amor que não sinto; quando finjo uma indiferença que não sinto; quando me mostro mais do que sou; quando me mostro menos do que sou; quando digo que estou zangado quando na verdade estou com medo; quando finjo estar desamparado, mas na verdade estou manipulando; quando nego e escondo minha exitação pela vida; quando finjo uma cegueira que nega minha consciência; quando finjo um conhecimento que não possuo; quando rio e quero chorar; quando fico muito tempo com pessoas de quem não gosto; quando me apresento como encarnação de valores que não aprovo nem aceito; quando sou delicado com todo mundo menos com aqueles a quem digo amar; quando finjo ter crenças sobre as quais não tenho convicção, só para ser aceito; quando finjo modéstia; quando finjo arrogância; quando deixo meu silêncio concordar com convicções das quais não compartilho; quando digo admirar um certo tipo de pessoa enquanto durmo com outro.
Eu sou uma farsa.
E talvez não seja só eu.
A penalidade é que atravessei a vida com a atormentada sensação de que sou um impostor.Isso significa, entre outras coisas, que me condeno a ansiedade de ficar pensando quando serei descoberto.
Se eu for um pouco mais honesto, não poderei mais queixar que não tenho identidade, terei que saber o que sinto, acho que as pessoas terão mais respeito por mim, teria a oportunidade de enfrentar desaprovação, provavelmente perderei alguns amigos, mas não estaria sempre usando luvas de pelica no que se refere aos sentimentos alheios. Teria mais integridade, teria que modificar minha maneira de viver, não poderei mais dizer que não sei quem sou, sentiria que eu tenho um centro, sentiria que há algo de valor em mim, não me sentiria tão vazio não me sentiria tão falso, mas seria eu mesmo.

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O primeiro ex-farsante assumido.
Depois do meu cachorro imaginário fazer xixi no telefone de casa,
depois de 5 dias no Tibet, onde não tem IME e celular não tem sinal.